terça-feira, 29 de maio de 2012

BAÚ CORAL – 1975, O Santa Cruz cala o Maracanã

O Santa Cruz cala o Maracanã, Por Rubens Sousa

Era a última rodada da terceira fase do brasileirão de 1975, Internacional e Fluminense já estavam garantidos nas semifinais, Flamengo x Santa Cruz e América-RJ x Cruzeiro iriam decidir quem ficaria com as duas últimas vagas. Mas para a CBD tudo já estava certo para uma rodada dupla, domingo no Maracanã, o Fluminense enfrentaria o vencedor da partida entre América e Cruzeiro, e o Flamengo pegaria o Internacional. Os chefões da CBD não acreditavam jamais que o Santa Cruz conseguisse superar o Flamengo em pleno Estádio Mário Filho, diante de mais de 70 mil rubro-negros, e principalmente porque o time carioca jogava pelo empate.

Até mesmo o matemático Osvald de Souza, que fazia prognósticos da Loteria Esportiva na época, não incluiu o time coral nos cálculos de possibilidades. Os programas esportivos das rádios cariocas então davam como favas contadas uma vitória do Mengão sobre o Santa Cruz, um clube nordestino com certeza iria tremer jogando no Maracanã lotado.

O Santa Cruz aceitou o desafio, consciente de que futebol nem sempre se ganha nos bastidores, mas dentro do gramado. E foi exatamente o que aconteceu, numa quinta-feira, 4 de dezembro de 1975, o Santa Cruz derrotou não apenas o Flamengo, mas calou a boca dos chefões da CBD, de boa parte da arrogante imprensa carioca e dos 74 mil rubro-negros, que assistiram a um show de bola tricolor, diante do poderoso Flamengo de Zico, Júnior, Raul, Rodrigues Neto e Doval.

O jogo começou já demonstrando um domínio do time coral, o que deixou o time carioca desnorteado, e logo aos 26 minutos do primeiro tempo Ramon abria o marcador para o Santa Cruz, mas não deu nem tempo de comemorar, no minuto seguinte Zico empatava para o Flamengo, e assim o placar se manteve até o final do seu primeiro tempo.

Na volta para o segundo tempo, o Santa Cruz continuava bem em campo, com maior domínio sobre o adversário, não demorando muito para traduzir isso em gol, aos 19 minutos da etapa final, mais uma vez Ramon estufava as redes rubro-negras, deixando o tricolor novamente na frente do placar. A partir daí, o que se viu por parte do Flamengo foi um total desespero e muitas jogadas violentas, o atleta rubro-negro Júnior abusou e muito desse artifício covarde, conseguiu tirar de campo por contusões, o ponta-esquerda Pio e também o atacante Mazinho, sendo que este de uma forma bem mais violenta, a contusão foi tão séria que Mazinho ficaria de fora da partida seguinte, que seria a semifinal contra o Cruzeiro, desfalque esse que acabaria custando muito caro ao Santa Cruz no duelo contra os mineiros. Para fechar o caixão dos cariocas de vez, Vôlnei que substituiu justamente Mazinho, fez o terceiro gol tricolor aos 42 minutos, decretando assim a vitória coral.

Naquele dia o triunfo coral não pertenceu somente ao Santa Cruz, mas ao futebol do Nordeste, uma região que de há muito não é mais pobre em tudo como pensam e como dizem muitos sulistas. Ao terminar o jogo, o Maracanã parecia reviver o drama de 1950, quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo. A lição de humildade, infelizmente ainda não havia sido aprendida, e pelo jeito nunca será.

Flamengo

Cantarelli, Jaime, Luiz Carlos, Júnior, Zico, Tadeu Ricci, Liminha (Edson), Rodrigues Neto, Paulinho (Doval), Luisinho, Luís Paulo. Técnico: Carlos Froner

Santa Cruz

Jair, Lula Pereira, Levir Culpi, Carlos Alberto Barbosa, Pedrinho, Givanildo, Carlos Alberto, Ramon, Pio (Alfredo), Mazinho (Volnei), Fumanchu. Técnico: Paulo Frossad

Público: 74.019



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